Domingo, 7 de Outubro de 2007

O Paraíso, Agora!

 

 

 

Olá amigos!

Hoje venho recomendar-vos um filme algo político, "O Paraíso, Agora!", palestiano, desculpem, segundo os Oscars, esteve nomeado para Melhor Filme Estrangeiro, sem nacionalidade atribuída, por pressão de Israel que apenas não conseguiu apagar este filme dos nomeados.

Isto é uma mera nota, a que já agora acrescento que esta película não venceu o Oscar mas levou o Globo de Ouro para Melhor Filme Estrangeiro em 2006.

Estamos a falar do conflito entre Israel e a Palestina que se arrasta indefinidamente.

Este filme conta a história de dois jovens amigos palestinianos, Khaled e Said, que são recrutados para cometerem um atentado suicida em Tel Aviv. Após a última noite com as famílias, sem se poderem despedir, são levados à fronteira com as bombas atadas à volta do corpo. No entanto, a operação não corre como esperado e eles perdem-se um do outro. Separados, são confrontados com o seu destino e as suas próprias convicções...


O cenário é sobejamente conhecido ou pelo menos imaginado. "'O Paraíso, Agora!" tem a capacidade humana de nos tocar o coração numa tentativa louvável de aglomerar esforços e consciências para pôr termo a um conflito que mancha a dignidade humana. A dignidade humana à escala mundial, diga-se, porque ninguém pode ficar alheio a este flagelo que tem recrutado centenas de vítimas num e noutro lado da barricada. A razão política ou ética ou mesmo a vil necessidade de encontrar culpados não tem aqui lugar. O que aqui se faz notar é um apelo à consciência e à inteligência humana na procura de uma solução eficaz e pacífica para o conflito israelo-árabe. A questão é subtilmente abordada ocultando toda e qualquer referência manifestamente tendenciosa. O filme vale por isso e vale pelo empenho dos actores e pela coragem do realizador. Obrigatório ver.

Apesar de cada uma das três personagens principais de "O Paraíso, Agora!" representar obviamente um ponto de vista (palestiniano) do conflito israelo-palestiniano, vemo-las ainda assim como seres de carne e osso e não meros estereótipos - e este é o primeiro trunfo do filme. Ambos os bombistas-suicidas, Khaled e Said, têm dúvidas, mas os seus motivos e comportamentos são muito diferentes. Há duas cenas fundamentais para os percebermos: Khaled depois de uma primeira tentativa abortada de ler o seu último discurso para uma câmara, à segunda esquece o papel e recomenda à mãe o melhor local para comprar filtros para a água. Não obstante estar sempre a falar em Ala, até ao fim é-lhe difícil esquecer os assuntos mundanos. Said é diferente: na sua suposta última noite, não resiste a ir a casa de Suha, a mulher por quem provavelmente está apaixonado. Depois de sair, pára e lança-lhe um último olhar. Este não é de hesitação. Said, filho de um colaboracionista que foi executado quando ele era ainda miúdo, sabe que o que vai fazer é inevitável; será talvez um vislumbre do que poderia ter sido a sua vida se a história não se lhe tivesse atravessado à frente. Pelo contrário Suha, filha de um herói, não tem dúvidas nenhumas: violência gera mais violência e o caminho não é aquele - mas não há nada que possa fazer. O segundo trunfo do filme é este: Hany Abu-Assad está mesmo interessado nos conflitos interiores das suas personagens, todas têm a sua simpatia e talvez todas reflictam alguma parte de si, do que ele pensa como palestiniano. Não há aqui uma história a preto e branco. Mas o facto de ser Said quem sobressai como a mais forte personagem do filme, aquela para onde se dirige a simpatia do espectador, não pode deixar de ser visto como uma nota pessimista do realizador. Said talvez nem acredite muito que a sua acção mude alguma coisa - mas entre não fazer nada e executá-la, não hesita. O seu destino era esse.

 

 

É um filme pragmático. Os palestinianos vivem em território ocupado, são refugiados na sua própria terra, e sentem-se humilhados por essa condição que consideram aviltante. A prosperidade está-lhes vedada, nem sequer podem entrar em Israel para trabalhar, para ganharem o seu pão. As barreiras de controlo estão em todo o lado, cortam-lhes os acessos, roubam-lhes a liberdade, espelham-lhes a miséria.

A  dicotomia entre as condições de vida do lado palestiniano e as do lado israelita estão bem patentes num mero esboço paisagístico, um mero trajecto de automóvel. Tel Aviv é igual a qualquer grande cidade europeia, cosmopolita, rica. Tem arranha céus, lojas, praias, esplanadas, avenidas pavimentadas. Do lado de Nablus, não há nada disto. Vive-se no pó de habitações familiares, antigas, pobres. O comércio faz-se na forma de pequenas tascas e mercearias, não parece haver nada senão suor e lágrimas.

Com um argumento rico em simplicidade, o filme dá-nos o que pensar. Os heróis são pessoas normais, dadas as circunstâncias, têm as mesmas dúvidas e aspirações, a mesma ambição contrariada por anos de subalternização e inferiorização face ao ocupante.

Dirigido por Hany Abu-Assad, este filme tem interpretações seguras num cenário sempre complicado e sempre muito actual. Aliás, por ter sido realizada em parte em Nablus, território ocupado pelos israelitas, a rodagem da longa metragem ficou marcada pelos riscos diários que a equipa enfrentou nas filmagens, e que levou à saída de seis técnicos alemães. 

Importa também saber, por curiosidade, que por estes dias o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários veio anunciar que ao contrário do prometido, Israel em vez de reduzir os "checkpoints" militares na Cisjordânia, aumentou-os desde Agosto de 2005 em 52%, passando de 376 para 572. Com estes postos de controlo, Israel afirma pretender apenas "proteger as centenas de colonos judeus que habitam a Cisjordânia ocupada". Palavras para quê? Vejam o filme e reflictam sobre o assunto.

Bom cinema!

Façam o favor de ser felizes e de fazer alguém feliz!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

publicado por docasnasasasdodesejo às 00:13
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